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Em memória

abr 3, 2024

Renan Quinalha

O que significa, num país com persistente tradição de violência, um regime de ditadura que durou 21 anos? A pergunta enunciada e discutida nesta obra de Tessa Moura Lacerda é uma potente chave para compreender não somente os restos da ditadura, mas também os limites postos naquilo que conquistamos de democracia.

A partir de sua trajetória familiar e pessoal, marcada pelo desaparecimento de seu pai, o militante Gildo Lacerda, a autora mobiliza reflexões críticas no campo da filosofia e traça uma ampla história da violência da ditadura, mas sem deixar de colocar no centro a luta incansável dos familiares de mortos e desaparecidos por verdade e justiça.

Seu pai foi assassinado por forças militares em 1973. Uma farsa produzida pela ditadura foi alçada à versão oficial, mas os anos – e as investigações das famílias – revelaram que seus restos mortais haviam sido ocultados em valas comuns, negando até o direito tão elementar a um rito fúnebre para elaboração do luto.

Como em inúmeros casos de repressão, a ditadura tentou aniquilar não apenas existências e corpos, mas também ideias, símbolos, histórias e rastros das pessoas que se levantaram contra o autoritarismo.

Este livro é a prova de que o esquecimento e o silenciamento não triunfaram. Apesar dos recentes ataques à democracia por uma extrema-direita que cultiva o negacionismo, a memória de Gildo e de tantas/os outras/os companheiros segue viva.

É para fazer justiça a essa memória que seguimos falando o que não foi dito, escrevendo o que se pretendeu apagar, escancarando o que se buscou esconder na busca por justiça.