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A Aretê Editora está lançando simultaneamente dois livros que abordam, de pontos de vista intimamente próximos, uma mesma sequência de crimes da ditadura militar brasileira: o sequestro, a prisão, o assassinato sob tortura e a ocultação do cadáver do militante Gildo Macedo Lacerda, em 1973.

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Gatos, peixes & elefantes – a gramática dos acordos profundos

 

Novo livro de João Carlos Salles reflete sobre desacordos profundos e divergências culturais

Especial

Livros de mãe e filha contam história de crimes impunes da ditadura

 

A partir de suas próprias vivências, duas autoras enfrentam em ricas experiências de linguagem o massacre da ditadura a indivíduos e florescentes possibilidades da sociedade brasileira

SOBRE OS LIVROS

Pela Memória de um paí[s]: Gildo Macedo Lacerda, Presente! traz o terceiro elemento da história de amor de Mariluce e Gildo. A professora de filosofia da USP e pesquisadora Tessa Moura Lacerda era ainda um feto enquanto seus pais viviam o terror nas mãos da ditadura. Seu livro, prefaciado por Marilena Chauí, traz quatro ensaios que, escritos de forma fluida e pungente e escorados em obras de Bertolt Brecht, Sófocles e Jeanne Marie Gagnebin, entre outros, abordam temas como a necessidade da edificação de uma memória sobre alguém que não se conheceu, a subjetividade de uma criança marcada por uma trágica ausência e a monstruosidade da negação dos rituais fúnebres pela ditadura.

A revolta das vísceras e outros textos, da jornalista e pesquisadora baiana Mariluce Moura, radicada desde 1989 em São Paulo, traz como carro-chefe o romance que dá nome ao livro. Segundo colocado na categoria romance inédito no prêmio da editora José Olympio em 1981, narra com prosa moderna e envolvente a história da jovem militante Clara. Inspirado na própria experiência de Mariluce, viúva de Gildo, o livro foi publicado em 1982 pela editora Codecri. Esse raro relato romanceado de um ponto de vista feminino sobre a vida na ditadura foi objeto, na década passada, da pesquisa de doutorado de Cris Lira, pela Universidade da Georgia. A entrevista de Mariluce a Cris, que assina o prefácio, é um dos outros textos mencionados no título. O livro traz ainda reflexões da autora escritos durante sua prisão, antes e depois da morte do marido, além de artigos e entrevistas para diferentes veículos e apresentação do militante e ex-deputado federal Emiliano José.

Críticas & comentários

A revolta das vísceras e outros textos

Mariluce Moura

A revolta das vísceras, originalmente publicado em 1982, é um romance premiado, mas também um livro de combate e um real exercício de sobrevivência. Mariluce Moura o escreveu para lidar na ficção com uma dor indescritível, magnificada pela recusa da ditadura de 1964-1985 em devolver à família o corpo de seu marido, assassinado em 28 de outubro de 1973, aos 24 anos, em dependências do quartel-general do IV Exército, em Recife, enquanto a mantinha presa, grávida, no Forte de São Pedro, em Salvador.
O crime completa 50 anos neste outubro de 2023, sem que os restos mortais de Gildo Macedo Lacerda, estudante de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cassado pelo famigerado decreto 477, jamais tenham sido entregues à família para os devidos ritos fúnebres — um direito civilizacional inalienável nas mais distintas sociedades humanas.
A revolta das vísceras conquistou o 2º lugar do prêmio para romance inédito concedido pela Editora José Olympio, por ocasião de seus 50 anos, em 1981. E seguiu inédito até que a Editora Codecri, vinculada ao famoso semanário crítico Pasquim, decidiu publicá-lo em 1982.
Em anos recentes, o romance despertou a atenção da academia e foi analisado em duas teses de doutorado: “Mulheres guerrilheiras: a representação de personagens femininas em narrativas brasileiras e argentinas relacionadas às ditaduras ocorridas entre 1964 e 1985”, defendida por Cristiane Barbosa de Lira na Universidade da Georgia, em 2016, e “Gênero, memória, literatura: a resistência à ditadura civil-militar brasileira na escrita de três militantes – Mariluce Moura (APML), Derlei Catarina de Luca (AP) e Sylvia de Montarroyos (POR-T)”, defendida por Maria Cláudia Moraes Leite na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), neste ano de 2023.”

– Orelha do livro

Juntos, os livros compõem um mosaico impressionante de uma história pouco conhecida, entre tantas histórias pouco conhecidas de crimes cometidos pelo Estado brasileiro entre 1964 e 1985.

Para que nunca se esqueça, para que não se repita!

“A revolta das vísceras tanto pode ser uma reação física, escatológica, quando um movimento de combustão interior, um vulcão que entra em erupção, um movimento de vida. A obra de Moura captura esse mergulho entre o corpo físico e as emoções perpassadas pela violência da tortura, da perda de gente querida, e daquele que fora o grande amor da protagonista.”

Cristiane Lira, tese de doutorado, Universidade da Georgia, 2016, pp 132-133

“A revolta das vísceras, ao contar a experiência de Mariluce sobre a morte de Gildo Lacerda acaba por também reconstruir a história de Gildo, permitindo que ele continue vivo naquela que narra e naqueles que a leem”

Maria Claudia Moraes Leite, tese de doutorado, UFRGS, 2023, p.151

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